Como para aqueles, que como eu, assistiram Castelo Rá-Tim-Bum, sabem que “Porque sim não é resposta”, vamos a resposta desta questão. Por que é importante adiar o Enem 2020? Por conta da desigualdade! É essa, de forma nua e crua, o principal fator da necessidade de suspender a realização, em outubro, do Exame Nacional do Ensino Médio. Essa demanda, surgiu especialmente devido a suspensão das aulas da rede pública e privada, bem como de cursinhos pré-vestibulares particulares e populares, desde meados de março por conta da pandemia do Covid-19.

Dentre as poucas certezas, aliás, que temos até agora sobre a situação mundial que vivemos, é a de que a pandemia colaborou para aprofundar as desigualdades sociais a muito já existentes. E desigualdade nada mais é do que distância. Como a física ou a matemática, não sei ao certo, ensinam a menor distância entre dois pontos é uma reta. Acontece que a distância entre duas classes econômicas nunca é reta, pelo contrário, é sempre tortuosa e irregular. Isso significa que o que está em jogo, não é a diferença (reta) entre dois, três ou dez salários mínimos, mas uma série histórica (e sinuosa) de oportunidades, escolarização, acesso a cultura, moradia, saúde, segurança, entre tantos outros fatores.

A suspensão das aulas afeta a todos, especialmente aqueles que neste ano planejam prestar os vestibulares para ingresso no ensino superior. Dentro deste grupo, no entanto, existem aqueles que serão muito mais prejudicados por conta desta situação no momento da prova: os alunos das escolas públicas e dos cursinhos populares. Esse cenário não é uma suposição ou uma projeção, são fatos! Isso ocorre porque, enquanto na grande maioria das vezes os colégios particulares tem trabalhado na produção de conteúdos EAD (ensino à distância) para os seus alunos, visando amenizar os impactos no calendário escolar, na outra tortuosa extremidade, os alunos das instituições públicas de ensino, por uma série de fatores históricos e estruturais, evidentemente não dispõe das mesmas condições.

Embora o acesso a internet e a aparelhos eletrônicos como celulares e computadores possa parecer banal em pleno século XXI para a nona maior economia do planeta Terra, o saneamento básico também o é, e mesmo assim 48% da população brasileira não tem acesso a coleta de esgoto, enquanto 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada. Essa situação, que parece tão distante de nós, é a mais pura realidade do país.

A cruel e cega decisão do Ministro da Educação Abraham Weintraub de manter a data da prova para outubro, ignorando os impactos da pandemia na educação especialmente entre os mais pobres, foi, felizmente barrada pela Justiça Federal de São Paulo, no último dia 17 de abril, que determinou que a realização desta edição da prova seja adiada. Uma pequena faísca no fim do túnel para os estudantes, que não resolve o maior problema do Brasil: a desigualdade. A distância (nada reta) entre dois pontos. E, aliás, por que uma reta é a menor distância entre dois pontos, perguntaria o personagem do mágico castelo da TV Cultura. A quem responderia: “Porque sim, Zequinha!”.

Felipe Lamellas
Graduando em Jornalismo (UNESP)