

Porto Ferreira Ontem – A Praça Cornélio Procópio (final)
Por Miguel Bragioni
Pesquisador da história de Porto Ferreira
Em 1961, chegaram ao Brasil pequeninos insetos tisanópteros, com cerca de 2 cm. Rapidamente, avançaram por todos os estados e municípios, inclusive em Porto Ferreira, causando sérios problemas às plantas, sobretudo, aos imponentes ficus-benjamina. A rápida propagação se deu pelos seus ovos, botados sobre as folhas das árvores e protegidos por uma espécie de teia, a qual retorcia as folhas. Tornaram-se famosos como “lacerdinhas”, apelido pejorativo originário entre opositores de Carlos Lacerda, então governador da Guanabara. Alastrados nas dezenas de árvores da Praça Cornélio Procópio, quando caíam nos olhos dos transeuntes, o passeio era interrompido, diante da forte ardência e vermelhidão.
Já os gozadores também aproveitavam os passeios pelo Jardim Público, com os ânimos à flor da pele, para provocar o humor das jovens: munidos de canudinhos – curtos bambus -, abasteciam o vácuo com papeizinhos enrolados, formando canudos menores, com a extremidade aguçada, e os sopravam em direção aos cabelos armados e penteados das moças. Ao retornar aos lares, muitas jovens regressavam com as bolinhas de papel e os canudinhos entrelaçados nos cabelos.
Sobre as voltas no Jardim Público é mister descrevê-las: no quadrado, contorno da praça, desfilavam os casais; no primeiro losango, de fora para dentro, eram os/as “paqueras”, os/as quais se dividiam em grupos distintos de homens e de mulheres, com caminhada em sentido contrário - enquanto os rapazes vinham, as moças iam. Neste losango, a frequência de público era variada, com maior ênfase às classes de operários; no segundo losango, área de passeio suspenso, destacava-se o ponto de namoro dos estudantes, os mais jovens; no terceiro, em torno da pérgula, permaneciam os casais com as crianças.
Todavia, com o vasto crescimento floral e vegetal, alguns problemas de infraestrutura começaram a danificar a Praça Cornélio Procópio: os grandes fícus elevaram o nível das calçadas, resultando tropeços e soltura das pedras, e manifestaram doenças incuráveis; com o número crescente de moradores, já não se encontravam com facilidade bancos livres, nos fins de semana, e os canteiros das laterais eram cercados por baixo muro, porém, com formato superior de triângulo, não permitindo o assento público; a vegetação sobre a pérgula, tendo o domínio da primavera, estava sempre controlada pelas podas, caso contrário não consentia espaço aos frequentadores ou aos músicos da banda.
Ao assumir a Prefeitura, Dorival Braga, em 1973, solicitou dezenas de ladrilhos ao engenheiro Nicolau de Vergueiro Forjaz para serem adaptados sobre as muretas que contornavam a praça. Pretendia, com o pedido, criar mais espaços destinados ao assento. Retirou também as árvores secas e plantou novas espécies. Contudo, dez anos depois, realizou a última grande reforma da Praça Cornélio Procópio: elegendo-se, novamente, Dorival observava o reclame de alguns em referência à mudança visual do Jardim Público, mas percebia uma resistência por parte de outros. Numa atitude radical, resolveu remodelar a Praça. Dessa forma, retirou a calçadinha portuguesa do losango central, a fim de elevar a área de passeio suspenso, transformando-a em canteiros. Preservou apenas os fícus da rua Dona Balbina, isentos de doenças.
O novo trabalho do Executivo não foi coroado de facilidade, pois um grupo de jovens, sob a denominação de “Comissão Pró-Jardim”, organizou uma convocação pública, em março de 1983, a fim de coibir a alteração da Praça, sob argumentos históricos, culturais e ecológicos. Após a coleta de assinaturas, a comissão encaminhou à Câmara Municipal um abaixo-assinado, solicitando providências e parecer fiscalizador. Curiosamente, um dos posicionamentos da Câmara, em resposta aos jovens, garantia a perpetuação da pérgula. Mas, a situação foi diferente e a comissão emudeceu: cerca de dois meses depois do episódio, o prefeito entregou à jovem arquiteta Maria Elisete Duz a incumbência de projetar novo coreto, o qual foi confeccionado no município de Itu, mediante orientação da profissional.
Mais uma vez, árvores arrancadas e o canteiro de arbustos e de flores se transformou em obras. Sob a orientação do agricultor Cícero Amaro, novas mudas foram plantadas no jardim, a saber: sibipirunas, quaresmeiras, tuias (parecidas com cedrinhos), palmeiras, camélias, agapanto, mirocullis, maranta tricolor, cólios, dracenas baby, rabo de pavão e cactos variegatis.
Com a presença do Vice-Governador Orestes Quércia, do Secretário de Turismo do Estado, Sr. Carlos Pompeo de Toledo, do Deputado Estadual, Sr. Tonico Ramos, do Prefeito, Dr. Dorival Braga, e de autoridades locais e cidadãos, a nova Praça Cornélio Procópio foi reinaugurada a 29 de julho de 1983, sob a apresentação de estreia da Banda Municipal Musical, regida pelo maestro Tuta Antonini. Entre pompa e circunstância, na placa identificável, ratificando a indicação veiculada em março daquele mesmo ano pelo “Jornal do Porto”, Dorival manteve o nome do professor João Teixeira, como o responsável pelo projeto do Jardim Público.
À mercê do vandalismo, alguns dos sete gradis do coreto, de ferro fundido e com desenhos em baixo relevo, foram quebrados, sendo substituídos em março de 1994, na gestão do prefeito Carlos A. Teixeira, graças a uma parceria objetivando a reforma do coreto a expensas do Banco do Brasil.
O ano de 2010 registrou o adeus dos majestosos fícus-benjamina, restantes na Praça Cornélio Procópio, na lateral da rua Dona Balbina, em decorrência de doenças. Em seus lugares, o prefeito, Dr. Maurício Sponton Rasi, plantou diversos ipês brancos e iniciou a substituição dos ladrilhos das muretas e de alguns bancos, por uma espessa madeira impermeabilizada.
Curiosidades
Alguns jardineiros da praça, legítimos guardiões, foram Antônio Menin, João Machanoquer, Generoso dos Santos e Ismael Hilário de Andrade.
A Praça Cornélio Procópio foi retratada em cartões postais, inclusive internacionais, e exibida em diversos registros televisivos, destacando a famosa propaganda do Cigarro Continental, em 1976.
Por Miguel Bragioni
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